domingo, 19 de julho de 2009

Eu vou escrever uma música de carnaval


Sabe aquela velha história que o mundo quer gente feliz o tempo todo? É a mais pura verdade.

Ninguém tem tempo ou saco para nossa nostalgia e se você tem pelo menos um amigo (a) que no mínimo ensaie alguma atenção com suas neuras e problemas, agarre-o, coloque-o num pódium, pedestal ou algo semelhante.

O mundo não vai tolerar seu mal humor. O expediente precisa se parecer com um comercial da coca-cola. Deixe pra chorar depois das seis ou no escuro do seu quarto.

Aprenda bem rápido e sem se fazer muitas perguntas que todos o querem com o clássico sorriso colgate. Comprimidos, tarjas pretas e porres caem bem em celebridades. Eles podem até engordar muito. São mitos e tudo precisa ter um significado em torno deles, tudo se justifica e agrega valor para a sua biografia. Bulimia, anorexia, depressão, stress, toc, mania,personalidade bipolar, esquizofrenia, fobias, medo e overdoses são temas de novela, notícias nas revistas. São problemas para poucos. Para o reles mortal é preciso ter muito mais do que se imagina para compensar essa problemática.

Na vida real, onde a gente pega ônibus, ganha menos do que merece, trabalha mais do que é permitido pela física, química ou biologia, aonde encaixar essas doenças que insistem em dizer que são moderníssimas???

E ai de você mulher, não ser linda, pele lisa, corpo enxuto, independente financeiramente, arrojada, engajada e o escambal. E nada desse papo de amor , de um homem pra cuidar de você...ah, isso é coisa pras fracas. A mulher atual, antes de completar 30 anos, já tem o mundo a seus pés. Emprego invejável, super bem resolvida, consome os cosméticos de última geração, não fuma, malha todo dia, tem um namorado perfeito ou já é casada, já comprou sua casa própria, viajou toda a Europa, cansou da Disney e vai ter um bebê lindo ano que vem.

É, o mundo não é o último capítulo da novela das oito. Nunca foi. A gente é que se adapte, se abafe, e ainda se informe sobre as últimas da bolsa de valores... A gente é que aceite, de bom grado um filé de frango grelhado, sem anfetamina e sorria bem bonito para o álbum do Orkut. Tem que estar bem na foto, na página, na balada, na PQP. E nada de cigarrinhos para amenizar sua ansiedade, afinal você não pode passar a imagem de um indivíduo fraco, que se submete. O vício do tabaco é abominado pela mídia e 98% da população colabora com a campanha mundial contra o cigarro, apontando, escarrando e enchendo muito o saco dos piteiros de plantão. Não basta ser brasileiro, tem que participar!

A sociedade não vai deixar passar impune a mulher gorda, a adúltera, a mulher que chora, que fala sobre seus medos abertamente, que ostenta de alguma forma que está na contramão das regras implícitas que moram na cabeça da maioria.

Se não bastasse isso tudo, ainda temos que negar e esconder nossa solidão. Ninguém gosta muito se você não é do tipo popular, que passeia em diversas culturas, que tem mil amigos muito bem catalogados ( será um possível cadastro para envio de mala-direta?). Ah, não podemos esquecer os orgasmos múltiplos, a monogamia , o casamento, mas por favor não fale que você se masturba pois pode pegar mal.

Deixa a tristeza, a dor e o amargo para os poetas, artistas e afins. Vislumbrar essa sombra humana virou programa Cult em galeria de arte ou em leitura de livros da lista “os 10 mais” ou bem lado b para demonstrar a cultura do leitor e seu interesse no que não é cultura de massa, afinal não estamos vivendo a era do exclusivo, do diferente? (Quase todo mundo pensa, consome as mesmas logomarcas mas ninguém admite que é igual...é out)

Não vou nem falar dos dentifrícios, do politicamente correto, da gente que não come carne e nem sabe dizer porquê. De quem não respeita e não faz as coisas por acreditar nelas, mas porque está na última lista de atitudes in ou para ficar igualzinho ao novo namorado. De quem come sushi e sashimi mas não sabe nada da cultura oriental.

Tudo bem. Podemos comprar e namorar a experiência de shopping que melhor nos convier. Há quem ache essa possibilidade maravilhosa. Eu não. Não gosto de coisas rasas, sem veracidade. Vai ver tenho um pé, uma genética pré histórica ...

Pensando um pouco nisso tudo, tomei uma decisão importante: Vou escrever uma música de carnaval.

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