domingo, 1 de novembro de 2009

Amor de cão


Eu já me senti produto de armazém, de mercadinho, de conveniência.

Já me quiseram assim a qualquer custo, como criança que pede bala pra mamãe.

E eu era essa goma de mascar. Toda rosa e cheia de açúcar.

Quem é que não sabe que tudo fica um pouco sem gosto depois de algum tempo na boca?

De muito doce, o paladar pede salgado e depois ácido.

Esse amor de prateleira, de gôndola, de rotisseria, passa rápido que nem o apetite da gente.

Eu nunca fui muito dessa coisa de consumo de gente. De achar que era um brinquedo com uma função interessante. Quem não sabe que depois de um tempo acaba a pilha? E dá preguiça de comprar outra...e fica lá o boneco largado, com cabelo espigado.

Pra mim, certo ou errado, o meu amor é meio cachorro, confesso. Meu amor abana o rabo, lambe a cara do outro e dá a pata. Aprende truque novo só pra impressionar e não tem muita vergonha na cara.

Esse amor de cão não vê defeito, fica junto e pede carinho em momentos inoportunos.

Sai derrubando tudo e olha com cara de pedinte.

Mas cachorro também morde, precisa de vacinas e quando sai da coleira corre pra rua. Pula em gente estranha, sente ares de gente ruim, rosna, ataca.

No final das contas, esse amor acaba sendo mais amigo, mas sem muito orgulho. Amordeclarado e barulhento. É um amor que uiva, que agora, que deixa pegadas por onde passa.

Vou evoluir, quem sabe, para o amor felino. Bem mais independente e mais bonito. E quem é que nunca implorou um carinho pro gato, só porque ele é tão difícil?