sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Resgate e futuro



Eu quase tinha me esquecido do David Bowie.
Eu quase tinha me esquecido do que suas músicas me despertam.
Por que a gente se distrai desses prazeres?
Ninguém em sã transcendência fica imune a Bowie.
Adoro a loucura natural, que salta dos poros, das letras, do ritmo. Se fosse muito intencional não caberia tanta admiração.
Estou feliz. Feliz porque eu assisti um vídeo dele e tive um flashback. Funcionou como um resgate emocional e eu tão numas de novos planos e novas possibilidades. Meio que pisando num laço divisório como se minha existência se refizesse nesse momento atual.
Acho que é essa carga absurda de significados que vejo, sinto e ouço é que aumentam tanto a minha fé num futuro maior, mais bonito.
Eu descobri que preciso de alguns resgates para me fortalecer.
Descobri que preciso de Bowie e mil outras coisas que me fazem um bem danado. Preciso disso tudo em doses indecentes.
Semana passada tomei um porre de Coverdale. A voz mais natural do mundo, como a loucura de Bowie.
Nessa música se funde passado e futuro e novas associações.
Tou feliz demais por isso também.
Ás vezes a felicidade é simples de doer.
Rebel rebel...

http://www.youtube.com/watch?v=QDetQ18fw5Q

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

As cartas que eu nunca entreguei

Eu poderia encher uma gaveta. Um espaço na cômoda para elas.

Quase todas, eu perdi.

Cartas, mil cartas que eu nunca entreguei.

Por que elas não saíram de casa? Por que elas não foram endereçadas?

As cartas, todas as cartas que eu nunca entreguei, são quase anônimas se eu não as soubesse. Se me faltasse a memória, mas não falta. Talvez eu já soubesse, antes de começar a escrevê-las, que elas jamais seriam lidas por outros. Quem sabe elas não fossem cartas que apenas precisavam ser escritas, para que houvesse apenas a certeza de que certos sentimentos existiram e só a mim diriam respeito?

As cartas que eu nunca entreguei eram denúncias. Funcionaram como um remédio, paliativo de alguma dor ou excesso. Elas eram talvez, cartas para mim mesma. Organização de algum caos emocional.

Mil vezes chorei relendo as cartas que escrevi e depois rasguei. Talvez parte de mim lamentasse minhas perdas. A parte que ainda pensa e pondera. E essa exata parte é que não permite que essas cartas partam. É a minha fatia de amor próprio e lucidez.

As cartas que eu nunca entreguei talvez sejam ensaios para um folhetim de terceira. Talvez não sejam nada além de delírios tímidos. Só sei que elas existem e muitas foram extintas, quando havia tinta e eram de papel. As outras, virtuais, foram escondidas em alguma pasta de codinome idiota pra nem eu reconhecer.

Talvez, do que restou, eu organize por datas ou temas. Talvez as exponha em alguma galeria, com tinta e desenhos em volta. Talvez eu dê uma de Sophie Calle e tenha como tema da arte a minha vida, misturada com fantasia, pra ninguém no final saber o que é verdade e o que é mentira.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Zonas úmidas e um pouquinho de cartas de amor

Acabei de ler “Zonas úmidas, primeiro romance da escritora francesa Charlotte Roche. Logo em cima do título, em caixa alta lê-se “Mais de um milhão de exemplares vendidos.” Ótimo apelo. Peguei o livro vermelho na estante, sentei no anexo da livraria e já sabia que se não tivesse um texto bem impactante, não me prenderia à leitura. Não agora que ando ansiosa até os ossos , sem paciência com quase nenhum conteúdo. Acho que não estou numa fase muito curiosa, digamos assim.

Voltando ao tema, correndo os olhos pelas primeiras páginas, fiquei um pouco surpresa e logo fiquei animada pois parecia ter encontrado meu passatempo noturno para esses dias acelerados.

O tema central é sexo e só mesmo ele pra vender tanto livro de autoria estreante. Nem é sexo romântico ou qualquer coisa parecida com isso. A narrativa é de uma jovem que está em busca de prazeres carnais e aparentemente sem nenhuma culpa. A crítica do New York Times diz: “É preciso estômago forte para ler este livro”. Lançado o desafio, me juntei a um milhão de colegas também curiosíssimos.

Confesso que em alguns trechos fiquei um pouco surpresa, mas quase nada me deixou atônita e muito menos excitada. Pra ser bem sincera, achei triste a história. Muita solidão como pano de fundo, e isso sempre me incomoda. A verdade é que o livro não me chocou, tampouco me ameaçou um vômito. Tem trechos nitidamente demasiados, com carga excessiva de detalhes sórdidos, o que perde um pouco a graça. Me pega muito mais o sutil que o escancarado. E é bem isso o tempo todo. Feridas abertas, vaginas raspadas, um pouco de sujeira, de bissexualismo, dor e solidão, repito, e de tudo ali explicitado foi o que de fato me incomodou.

De qualquer forma acho que vale a pena essa história, que foi desacreditada por muitas editoras. Eis que está vendendo horrores e servindo de estímulo à leitura para muitos desinteressados ou por super ansiosos passageiros como eu. As feministas estão adorando a obra, vale ressaltar.

No mesmo dia que o comprei, estava com um exemplar de “Mil cartas de amor”...acho que o nome é esse. Achei fantástico o tema, pois reúne cartas verídicas de amor de personagens de todos os tempos. Sexo e amor são mesmo atemporais. Como o fazemos e vivemos é que muda um pouquinho ou será que sempre foi confuso e ás vezes dissonante? Será que a variação é só na linguagem ou o mundo está mudando os nossos sentimentos? Por fim, há a hipótese de ser absolutamente pessoal seu significado ou ainda sermos fruto da cultura que vivemos. Mas eu sempre digo que sexo, amor e estômago estão num nível complexo de entendimento. Instintivo , emocional ou genético, poucos explicam. O que sabemos é que são forças extremas. Melhor vivê-los.