quarta-feira, 29 de julho de 2009

Jabor, eu te amo

Porque ele é maravilhoso.
Jabor, eu te amo.
Trecho do livro "Eu sei que vou te amar"

"...você chega e entra quebrando o realismo da sala, quando você entra muda tudo, a casa fica diferente, as cadeiras se movem, os vasos de rosa voam no ar, as mesas rodam, rodam e eu começo a perder o controle da minha solidão; sozinho eu me seguro, mas você chega e eu danço, pois você sabe de mil truques para me jogar no abismo...você chega e o terrível perigo do Outro se desenha; você é um ponto de interrogação, uma janela para o ar, um copo de veneno, você é o meu medo, o mar fica em ressaca, fico à beira do riso e das lágrimas, perto do céu e perto do crime, um relógio de briga começa a contar os segundos da luta, uma multidão de fantasmas de terno e gravata me assiste com o coração sangrando, perco o controle e entramos os dois num barco em alto-mar, à deriva..."

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Hoje

sábado, 25 de julho de 2009

Impressões de nós

De nós talvez restem momentos

Algumas músicas

Poucos aniversários

Palavras

De nós talvez fique o sonho

Projetos inacabados

Raras coisas

Fantasias

De nós talvez permaneça algo em construção

Inacabados muros

Vilas de papel

Ar

De mim talvez fique o cheiro

Barulhos, ruídos, fumaça

Sábados inteiros

Ponteiros

De você talvez fique o som

Promessas tímidas

Recuo, medo, solidão

Que venha o amanhã

E que ele nos revele a verdade

Que mate a sede da conquista,

Do eterno, do etéreo, da vida

Que a certeza venha

e seja eterna visita

Que a paz da descoberta

nos dê sono, alegria e viço

De nós talvez fique um

Talvez fique a história

Talvez, nós.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Fight!

Lá estava eu preparada para tudo. Peito aberto, cabelo ao vento e uma segurança colossal. Linda paisagem, céu azul e longos campos verdes. Bravo!

Com o coração na boca, tudo o que eu não conseguia era pensar. Fui levada por um movimento alheio a razão. Uma espécie de barco a deriva, meu corpo seguia no ritmo das pulsações involuntárias.

Ainda entretida com o movimento intrépido de minhas pernas, avistei um corpo rolando em minha direção. Senti medo, mas não recuei. Aquele objeto não identificado estava cada vez mais próximo e vinha numa velocidade que não me permitia pensar muito. Eis que reúno todas as minhas forças e contrariando as leis da gravidade, salto sobre o inimigo e consigo seguir adiante. Continuo o percurso um pouco assustada e com uma ponta latejante de orgulho, afinal não fui vencida tão facilmente.

Sem passar muito tempo, logo surgiram mais e mais situações que me exigiam superação. Dei cambalhotas, fiz estrelas, adquiri poderes dignos de um mutante.

Estava cansada, machucada, com sede e eis que avisto um lago. Ele se abre para mim, mas de suas águas emerge uma criatura faminta, querendo me engolir. Na ponta dos seus caninos havia um tesouro. Esgotada, consigo ainda, arriscando todos os meus limites, pegar o ouro. Ao tocá-lo me senti renovada, com uma vitalidade inexplicável. Forte e revigorada, segui adiante,no entanto a energia se esvaía rápido e as situações com as quais me deparava, distanciavam-se cada vez mais do humano.

Em pandarecos abri os olhos e desejei ir embora daquele cenário. Era o inferno? Não quis superar mais nada. A percepção de tempo estava completamente alterada. Tinha medo do próximo desafio, que decerto viria, mas eu não sabia se algo cairia do céu, se o chão iria me engolir ou se eu seria flechada por um aborígene. Não me arrisquei mais por nenhuma oferta reluzente que invariavelmente estava atrelada a um risco cada vez mais difícil e menos atraente, portanto.

Game over! Nessa hora um contador me creditou míseros pontos incompreensíveis. Saio da tela para viver fora de uma partida de Pitfal. Jogos assim não foram feitos para pessoas reais. Divertido é ver o bonequinho lá, se fudendo. Estar lá, no lugar dele, eu não aconselho a ninguém!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Á vontade


Não gosto dessa velha idéia de alguns acontecimentos em detrimento de outros. Eu acredito que podemos tudo e ao mesmo tempo. Por que nos passaram essa noção equivocada de rodízio de conquistas e sensações? Creio no banquete, creio que tudo pode coexistir se a gente quiser. Por que não?

Quantas vezes ouvimos, “muito riso é sinal de choro” ou “sorte no jogo, azar no amor”. Vieram nos incutindo esse conceito de gangorra maldita e o pior é que muitas vezes caímos na cilada de sentir medo bem no auge da felicidade. Um diabinho nos ameaçando o prazer e acabamos transformando essa alegria numa espécie de agonia, num quase presságio de que algo terrível virá.

Minha filha, você não pode ter tudo....Quem disse?

Dessa parafernália cultural vem o preconceito. Se ela é bonita deve ser burra, se tem grana, a criatura é reduzida a isso e ponto. Se a pessoa lê muito, não cuida do corpo e se vai a academia, não conhece literatura russa.

Eu estou cansada desse maniqueísmo. Tudo colocado em preto ou branco, bom ou mal, prazer ou dor, grana ou amor, corpo ou mente. Deixaram a plenitude no campo religioso. Aqui, mais embaixo, desconstruíram o humano e tentaram nos transformar, nós e nossas idéias, em pedaços. Parece que fomos condenados a esses limites.

Está na hora de quebrarmos esses malditos paradigmas. Não devemos tolerar menos que muito e se tens um grande amor, nada lhe impedirá de ganhar na loteria, de fechar um grande negócio e encher a burra de dinheiro.

Se eu escrevo, eu também posso rezar, dançar, tomar um porre, dar um fora, errar e aprender mímica. Posso ser boa em português e matemática ou decidir que não quero nada disso.

Quem disse que optar pela liberdade seria fácil? Quando percebemos que não precisamos nos enquadrar nesses limites, sentimos até um frio na barriga...porque vislumbramos infinitas possibilidades que se sobrepõem numa boa e sem a obrigação de ser perfeito ou superficial.

Acho que o caminho é o prazer, sem dor, por favor, mas se ela vier há muito mais a fazer do que se reduzir a ela, a não ser que se queira. Fique à vontade.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Porta joias

Guardo seu cheiro como quem esconde chaves,
tesouros.
É uma porta mágica que me dá acesso a outras dimensões.
Tranquei.
É lá que eu visito teu corpo imaginário.
É quando me sinto assim,
tão nua
que atravesso essa fenda
e deliro
Tenho todas as horas
para nós
Rebobino tuas mãos
em minhas costas
Contemplo tua cara
e acho graça
do teu medo
Eu fico maior
mais a vontade
nesse lugar
e consigo entender
o indizível.

domingo, 19 de julho de 2009

Eu vou escrever uma música de carnaval


Sabe aquela velha história que o mundo quer gente feliz o tempo todo? É a mais pura verdade.

Ninguém tem tempo ou saco para nossa nostalgia e se você tem pelo menos um amigo (a) que no mínimo ensaie alguma atenção com suas neuras e problemas, agarre-o, coloque-o num pódium, pedestal ou algo semelhante.

O mundo não vai tolerar seu mal humor. O expediente precisa se parecer com um comercial da coca-cola. Deixe pra chorar depois das seis ou no escuro do seu quarto.

Aprenda bem rápido e sem se fazer muitas perguntas que todos o querem com o clássico sorriso colgate. Comprimidos, tarjas pretas e porres caem bem em celebridades. Eles podem até engordar muito. São mitos e tudo precisa ter um significado em torno deles, tudo se justifica e agrega valor para a sua biografia. Bulimia, anorexia, depressão, stress, toc, mania,personalidade bipolar, esquizofrenia, fobias, medo e overdoses são temas de novela, notícias nas revistas. São problemas para poucos. Para o reles mortal é preciso ter muito mais do que se imagina para compensar essa problemática.

Na vida real, onde a gente pega ônibus, ganha menos do que merece, trabalha mais do que é permitido pela física, química ou biologia, aonde encaixar essas doenças que insistem em dizer que são moderníssimas???

E ai de você mulher, não ser linda, pele lisa, corpo enxuto, independente financeiramente, arrojada, engajada e o escambal. E nada desse papo de amor , de um homem pra cuidar de você...ah, isso é coisa pras fracas. A mulher atual, antes de completar 30 anos, já tem o mundo a seus pés. Emprego invejável, super bem resolvida, consome os cosméticos de última geração, não fuma, malha todo dia, tem um namorado perfeito ou já é casada, já comprou sua casa própria, viajou toda a Europa, cansou da Disney e vai ter um bebê lindo ano que vem.

É, o mundo não é o último capítulo da novela das oito. Nunca foi. A gente é que se adapte, se abafe, e ainda se informe sobre as últimas da bolsa de valores... A gente é que aceite, de bom grado um filé de frango grelhado, sem anfetamina e sorria bem bonito para o álbum do Orkut. Tem que estar bem na foto, na página, na balada, na PQP. E nada de cigarrinhos para amenizar sua ansiedade, afinal você não pode passar a imagem de um indivíduo fraco, que se submete. O vício do tabaco é abominado pela mídia e 98% da população colabora com a campanha mundial contra o cigarro, apontando, escarrando e enchendo muito o saco dos piteiros de plantão. Não basta ser brasileiro, tem que participar!

A sociedade não vai deixar passar impune a mulher gorda, a adúltera, a mulher que chora, que fala sobre seus medos abertamente, que ostenta de alguma forma que está na contramão das regras implícitas que moram na cabeça da maioria.

Se não bastasse isso tudo, ainda temos que negar e esconder nossa solidão. Ninguém gosta muito se você não é do tipo popular, que passeia em diversas culturas, que tem mil amigos muito bem catalogados ( será um possível cadastro para envio de mala-direta?). Ah, não podemos esquecer os orgasmos múltiplos, a monogamia , o casamento, mas por favor não fale que você se masturba pois pode pegar mal.

Deixa a tristeza, a dor e o amargo para os poetas, artistas e afins. Vislumbrar essa sombra humana virou programa Cult em galeria de arte ou em leitura de livros da lista “os 10 mais” ou bem lado b para demonstrar a cultura do leitor e seu interesse no que não é cultura de massa, afinal não estamos vivendo a era do exclusivo, do diferente? (Quase todo mundo pensa, consome as mesmas logomarcas mas ninguém admite que é igual...é out)

Não vou nem falar dos dentifrícios, do politicamente correto, da gente que não come carne e nem sabe dizer porquê. De quem não respeita e não faz as coisas por acreditar nelas, mas porque está na última lista de atitudes in ou para ficar igualzinho ao novo namorado. De quem come sushi e sashimi mas não sabe nada da cultura oriental.

Tudo bem. Podemos comprar e namorar a experiência de shopping que melhor nos convier. Há quem ache essa possibilidade maravilhosa. Eu não. Não gosto de coisas rasas, sem veracidade. Vai ver tenho um pé, uma genética pré histórica ...

Pensando um pouco nisso tudo, tomei uma decisão importante: Vou escrever uma música de carnaval.

RG em pauta

Quando é que perdemos o fio da meada? Essa linha tênue que na brutalidade cotidiana se esvai.Em que ponto exato percebemos que certas coisas parecem não fazer mais o menor sentido? Quando é que perdemos a identificação que até então nos unia a algo ou alguém? E desce garganta abaixo uma sensação maldita, formigando o coração e a cuca.

Será que toda essa velocidade nos distrai? E com essa aceleração quantas coisas essenciais ficam estanques? Você está regando a fina flor dos seus desejos, seus prazeres, seus sábados e domingos, seu ócio, seu sexo, sua gula?

Onde é que deixamos de ser tão puros? Em que momento a fotografia revela rigidez no rosto e a falta de um viço que era constante? Conseguiu reparar?

A tecnologia atravessou nosso caminho. Logo nós que amávamos cartas escritas a mão, onde percebíamos letras trêmulas, vorazes. Justo a gente que sempre precisou tanto de abraço e aprendeu a doar apesar de tantos bloqueios da infância. Essa modernidade toda, essa pós-modernidade que nos impõe a aceitação do híbrido mas nos deixa esquecer tanto quem de fato somos.

Fecho os olhos e me vejo na cozinha da casa de minha avó, ouvindo por tabela o rádio que ficava em cima do aparador e as notícias que me invadiam, os comerciais varejão, os debates afoitos sobre qualquer coisa e o cheiro de café e bolinhos de chuva. Vejo minha mãe me chamando para ouvir uma música de Noel Rosa que me impressionava, me emocionava e hoje não consigo cantá-la na íntegra mas graças a Deus ainda me lembro de todas as músicas que entraram em mim como uma faca., de muitas emoções que se combinavam com as minhas e eu ainda não sabia.

Tenho saudade do barulho do liquidificador e da dança louca com minhas irmãs enquanto durava esse ruído. Esse tempo vivido assim, me dá saudade. Ainda havia tempo de contar e ouvir as mesmas histórias um milhão de vezes. Falávamos dos livros que precisávamos ler. Ainda guardo um exemplar de Fernão Capelo Gaivota, com dedicatória de meu pai. Onde foram parar as dedicatórias? E onde ficou guardado o desejo de compartilhar e dar tempo a isso?

A saudade é um lugar em meu peito. Tenho espaço pra ela, sei o seu exato tamanho e isso não me torna nostálgica. Não desejo voltar a nenhum tempo. O que preciso é não esquecê-lo a final eu também moro lá. E ainda devo tantas coisas aquela menina quieta, com olhos grandes e com tantas perguntas que incomodavam os adultos.

Não quero esquecer tantas outras pessoas e coisas que me aumentaram tanto a humanidade. A vida não pode passar no mesmo ritmo que o mundo hoje nos impõe. Falo da vida vivida com amor, com curiosidade, com cheiros , tons e sons. Quero essa existência que me permita refletir, escrever, divagar sobre tantas, tantas coisas. Porque a minha arma contra o superficial e contra o mesmo, são as palavras. É articulando que penso, que consigo ter noção de doses, de ponteiros, de dimensões. E deixo que fluam, as palavras, desarmônicas ou não. É preciso não enlouquecer (ainda).