sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Ser indivíduo




A vida é mesmo cheia de atalhos, de percursos pesados, trechos escuros. Ainda bem que ela não é só isso. Ainda bem que são sempre quatro as estações e que nem todas as folhas permanecerão brancas ou vazias. Ainda bem que existe a dor, que é um alarme para colocarmos as coisas em seus devidos lugares.


Acho que posso enumerar milhões de coisas maravilhosas, que ainda bem , existem e são. Mas tudo vale muito mais a pena quando sabemos que a melhor companhia do mundo, é a nossa. Quando entendemos que as melhores coisas da vida só podem ser percebidas e desfrutadas quando somos de fato, indivíduos.


Isso de ser um não implica em egocentrismo, mas tem sido meu verdadeiro caminho para alguma sabedoria. Sente-se só quem não se conhece e quem não se gosta. Parece simples, mas não é.


Hoje vejo com tanta nitidez o quanto tantas pessoas não são inteiras e talvez nem metades. É um erro gigantesco acreditar que a felicidade está lá fora, está no passo de uma outra pessoa, na decisão de um camarada, na visita de um amigo, num abraço que não veio.


O mundo nos engrandece ou reduz. Os relacionamentos nos fazem crescer ou recuar. O que me parece ser a questão central é ser um indivíduo, com toda sua plenitude e prazer. Saber enxugar suas próprias lágrimas e a andar só, com a magnitude de um felino.


Se saber vivo, inteiro, pleno e capaz de fazer escolhas que estejam a altura do que somos. As decisões mais felizes são fruto de parâmetros estabelecidos pelos nossos limites e expectativas realistas. Pelo que entendemos como prazer genuíno, como acréscimo, valor real.


Estou aprendendo que podemos permitir ou não. Que quando avançamos limites, somos ferozmente violentados. Que a consciência da solidão humana dói, mas nos ensina coisas maravilhosas a respeito de nossa essência e da representação do outro.


Conversando com um amigo há algumas semanas, ele me disse que fez o caminho de Santiago, e lá, teve incríveis insights sobre a solidão humana. Eu não trilhei esse exato caminho ( que ainda pretendo), mas tivemos, mesmo em direções opostas, a mesma certeza. Essa consciência muda tudo. E para melhor. Não vamos mudar o mundo com nossos desejos e nem saberemos de fato, desejar, se não formos conscientes da nossa verdadeira natureza.


É só quando a gente se ama tanto assim que aprendemos a selecionar. Não vejo outra forma, outro caminho, para a real felicidade.
È preciso existir, primeiro e antes de tudo. É urgente sentir cheiros, sabores e texturas. Toda a percepção é única e pessoal. É preciso ver o mundo com os próprios olhos para saber onde ir , onde ficar e o que dividir.


Tudo isso parece assustadoramente óbvio, mas tem sido uma lição gigante e maravilhosa.

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