quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Rasguei as listas

Eu ando estranhando a minha civilidade.

Ando muito paciente,

bebendo a lentos goles, coesa.

Me pego conversando sobre coisas amenas e quando me questionam sobre coisas difíceis, não gaguejo.

Estou até dormindo menos, fazendo planilhas. Antes, no máximo, eram listas. Listas aliás, absurdas, acho que eu era influenciada pela ditadura do que vc tem que fazer antes dos 30

Essas pseudo obrigatoriedades, prazos e estatísticas, me infernizavam.

De quantos caras eu gostei?

Quantas transas,

quantos foras, furos, arrependimentos, furadas?

Lugares que eu nunca visitei, museus, países, praias.

Amigas que perdi,

que abandonei,

que me deixaram marcas.

Quantas vezes eu fugi de casa querendo ser encontrada?

Se eu morresse hoje, quem choraria?

E se eu casasse, quantos convidados?

Nomes de possíveis filhos,

e se for menina?

Como decoraria seu quarto?

10 músicas para dançar,

outras 10 para cair no choro,

atitudes para impressionar,

calorias de tudo.

As profissões que eu poderia seguir,

idiomas que eu preciso aprender,

livros obrigatórios,

talheres apropriados.

Peças indispensáveis para uma temporada na praia,

no campo,

pretinhos básicos,

truques para parecer mais magra,

outros para textos eficazes.

Como escrever cartas comerciais,

cartas de desculpas,

de amor,

de despedida.

Como se portar em lugares públicos, cerimônias?

Quantos gramas de carne por convidado?

Até que idade eu visto isso,

se tenho mais de 25 qual o renew indicado?

O meu cabelo preto ainda me cai bem?

Dizem que é uma cor pesada...

Quais os filmes que ganharam Oscar?

os ícones, os discos, as bandas?

Quantas vezes praticar sexo por semana, para ser considerado um ser humano de libido normal?

Enxoval para morar sozinha.

Como lavar a roupa branca,

a colorida,

a fina,

a seda,

as calcinhas.

Acho que eu concluí que não quero estar na média. Que enfim não importa se eu caibo, sirvo ou se estou no caminho considerado certo.

Eu não perdi meus desejos, mas agora sei as minhas prioridades. Se eu cheguei até aqui, não tem tanta coisa errada.

Acho que as listas para coisas a fazer até os trinta só servem para quem não chegou nessa etapa. Quando chega esse momento, você realmente não precisa dessas coordenadas. Ser feliz é uma missão absolutamente pessoal e é sempre da intuição, a última palavra.

A vida não tem um roteiro determinado e o que é bom pra mim, pra você pode ser uma grande furada.

2 comentários:

Anônimo disse...

muito bom

Unknown disse...

Nossa... lindas palavras, como sempre!
Beijos,
VAnny