domingo, 23 de agosto de 2009

O peso e a leveza


Já o li inúmeras vezes mas, sempre que me deparo com alguns trechos, eles parecem tomar novo significado, como se eu não tivesse observado algumas nuances nas suas entrelinhas.

A insustentável leveza do ser é um livro complexo e ao mesmo tempo absolutamente próximo de nossos questionamentos mais profundos.

Para mim é uma obra – prima. Acho que ainda me pegarei relendo suas páginas por muitos anos da minha vida.

Um pouco sobre a obra:

O filósofo Nietzche defende o conceito do “eterno retorno”, ou seja, que todos os acontecimentos referentes a história da humanidade, e da vida de cada um, irão repetir-se diversas vezes. O autor do Romance “A insustentável leveza do ser”, Milan Kundera, confronta essa idéia, afirmando que o eterno retorno é o mais pesado de todos os fardos, e que anular por completo o fardo, torna o movimento humano tão livre que o destitui de qualquer significado.

A questão central do livro se apresenta:

Para onde ir? Em direção ao peso ou a leveza?

Por meio da dinâmica de dois casais, o autor nos mostra que todas as nossas ações são únicas, desprovidas de um sentido maior, e que nossa vida não acontece senão uma única vez.

Este é um romance sobre relacionamentos, mas que levanta questões filosóficas: será que a vida tem sentido? Ou será o niilismo defendido por Kundera a solução? Analisando o comportamento de seus personagens, ele levanta tais questões e deixa ao leitor a decisão final; afinal, ele mesmo defende que, qualquer que seja esta decisão, terá a leveza insustentável do ser.

Alguns trechos do romance:

"Tereza sabe que é mais ou menos assim o instante em que nasce o amor: a mulher não resiste a voz que chama sua alma amedrontada; o homem não resiste à mulher cuja alma se torna atenta à sua voz".

"Todos nós temos a necessidade de ser olhados. Podemos ser classificados em quatro categorias, segundo o tipo de olhar sob o qual queremos viver.
A primeira procura o olhar de um número infinito de pessoas anônimas, em outras palavras, o olhar do público (...)
Na segunda categoria estão aqueles que não podem viver sem ser o foco de numerosos olhares familiares. São os incansáveis organizadores de coquetéis e jantares, mais felizes do que os da primeira categoria, que quando perdem seu público imaginam que a luz se apagou na sala de suas vidas. É o que acontece a todos, mais dia menos dia (...)
Vem em seguida a terceira categoria, aqueles que têm necessidade de viver sob o olhar do ser amado. A situação destas pessoas é tão perigosa quanto a daquelas da primeira categoria. Basta que os olhos do ser amado se fechem para que a sala fique mergulhada na escuridão (...)
Por fim existe a quarta categoria, a mais rara, a daqueles que vivem sob o olhar imaginário dos ausentes. São os sonhadores".


“Se cada segundo de nossas vidas repete-se infinitas vezes, somos pregados à eternidade feito Jesus Cristo na cruz. É uma perspectiva aterrorizante. No mundo do eterno retorno, o peso da responsabilidade insuportável recai sobre cada movimento que fazemos. É por isso que Nietzsche chamou a idéia do eterno retorno o mais pesado dos fardos (das schwerste Gewicht).

Se o eterno retorno é o mais pesado dos fardos, então nossas vidas contrapõem-se a ele em toda a sua esplêndida leveza.

Mas será o peso de fato deplorável, e esplêndida a leveza?

O mais pesado dos fardos nos esmaga; sob seu peso, afundamos, somos pregados ao chão. E, no entanto, na poesia amorosa de todas as épocas, a mulher anseia por sucumbir ao peso do corpo do homem. O mais pesado dos fardos é, pois, simultaneamente, uma imagem da mais intensa plenitude da vida. Quanto mais pesado o fardo, mais nossas vidas se aproximam da terra, fazendo-se tanto mais reais e verdadeiras.

Inversamente, a ausência absoluta de um fardo faz com que o homem se torne mais leve do que o ar, fá-lo alçar-se às alturas, abandonar a terra e sua existência terrena, tornando-o apenas parcialmente real, seus movimentos tão livres quanto insignificantes.

O que escolheremos então? O peso ou a leveza?

Parmênides levantou essa mesma questão no sexto século antes de Cristo. Ele via o mundo dividido em pares opostos: luz/escuridão, fineza/rudeza, calor/frio, ser/não-ser. A uma metade da oposição, chamou positiva (luz, fineza, calor, ser); à outra, negativa. Nós poderíamos achar essa divisão em um pólo positivo e outro negativo infantilmente simples, não fosse por uma dificuldade: qual é o positivo, o peso ou a leveza?

Parmênides respondeu: a leveza é positiva; o peso, negativo.

Tinha ou não razão? Essa é a questão. Certo é apenas que a oposição leveza/peso é a mais misteriosa, a mais ambígua de todas.”

Um comentário:

Anônimo disse...

Adoro ler seus textos.
Te amo, beijos!!!
Xú!