Tem dias que são ingratos. Dias que levamos com a barriga, com a sorte ou com a falta dela.
E-m-p-u-r-r-a-m-o-s. São os mais longos, que ironia. Dias que são só noite, sem companhia.
Se havia sol ou chuva, nem se via. Turvo eu diria...se alguém me perguntasse.
Ouso dizer que ninguém quer saber ou ler o que aflige. Falemos da gripe suína, da falta de grana, do desemprego. Merdas um pouco abstratas. Especulemos sobre a fome do mundo, a indecência do senado. Silêncio para nossas dores. Melhor gripado que mal amado. Melhor quebrado do que só.
As verdadeiras feridas são muito feias, fedem. E quem há de confessá-las gratuitamente? Se pelo menos recebêssemos um prêmio, uma estrelinha...melhor maquiá-las.
Ingratos os dias que nos forçam a vista, nos tiram a máscara e corremos pra casa. Enclausurados nós. Imersa na dor, oferto aplausos para os que tem medo e não se machucam. Ótimo, amanhã contarei histórias, eles dormirão o dia inteiro, entediados. Sem enredo, só frustração. Mas bem que hoje eu queria ser o super homem...voar em velocidade estonteante e voltar o tempo. Fazer coisas diferentes. Zerar os erros, alterar o destino. Eis que sou de carne, osso e amor.
E eu o avesso desse medo? E eu que amo tanto? E eu que tou sofrendo?
Ah, tem Caetano, Chico, Freud, Monet. Tem os livros, o cristo, os arcos, os bares. Tem Paris, Cabo Frio, churrasquinho. Benção de Santo Antônio e cheiro de chuva. Pai e mãe ali pertinho. Tem Carlos Drummond, Sabino, Quintana. Tem Woody Allen, aleluia! Almodóvar, Zé do caixão e Noel Rosa. Maiakovski, Dr. Sérgio e Cartola. Lenine, Baleiro e Frajola. Rei leão, Anna Clara, Piaf! Aznavour e Santiago. Blues, jazz e Dr. Jivago. Linda Bardot, orla Bardot e falando em Bardot, todos os gatos. Fotografia, bossa nova e humor. Ironia refinada, Jung e a molecada jogando bola no campinho. Tem cerveja gelada,, batata frita, sertralina. Perfume francês, Depardieu, Jabor, jabuticabas. Marlboro, rock`n roll, palavras cruzadas. Olhos e ouvidos para tudo isso. E se hoje eu ainda escrevi esse texto, viva o prosecco!