sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A dimensão da história.

Não importa que pareça tola, ingênua ou exagerada. Ela, a história, é parte de nós e também pode funcionar como um resgate de emoções flutuantes. Pontuam e perpetuam a essência das coisas.

Histórias nos trazem de volta a terra ou nos enchem de esperanças. Por isso sempre a vale a pena contá-las ainda que esqueçamos detalhes. Contá-las é doar cura, alívio, transformações psíquicas, emoções que nos aliviam ou aumentam nossa coragem.

Ouvir é também existir e expandir possibilidades. É através do conhecimento de histórias que sabemos e resgatamos nossas raízes e também por ela vislumbramos o futuro. É preciso, portanto, dar espaço a palavra.

Uma história:

(Do livro “ 0 dom da história – uma fábula sobre o que é suficiente” – Clarissa Pinkola Estés. Ph. D.)

“O amado Bem Shem Tov estava à morte e mandou chamar seus discípulos.

- Sempre fui o intermediário de vocês e agora, quando eu me for, vocês terão de fazer isso sozinhos. Vocês conhecem o lugar na floresta onde eu invoco a Deus? Fiquem parados naquele lugar e ajam do mesmo modo. Vocês sabem acender a fogueira e sabem dizer a oração. Façam tudo isso, e Deus virá.

Depois que o Bal Shem Tov morreu, a primeira geração obedeceu exatamente às suas instruções, e Deus sempre veio. Na segunda geração, porém, as pessoas já se haviam esquecido de como acendia a fogueira do jeito que Bal shem Tov lhes ensinara . Mesmo assim, elas ficavam paradas no local especial da floresta, diziam a oração, e Deus vinha.

Na terceira geração, as pessoas já não se lembravam de como acender a fogueira, nem do local da floresta. Mas diziam a oração assim mesmo, e Deus vinha.

Na quarta geração, ninguém se lembrava de como acendia a fogueira , ninguém sabia mais em que local exatamente da floresta deveriam ficar e, finalmente, não conseguiam se recordar nem da própria oração. Mas uma pessoa ainda se lembrava da história sobre tudo aquilo e relatou em voz alta. E Deus ainda veio.”

quinta-feira, 21 de julho de 2011

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Do desejo.






Quem és? Perguntei ao desejo.

Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.

H.H.

Para pensar o Outro, eu deliro ou versejo.

Pensá-LO é gozo. Então não sabes? INCORPÓREO É O DESEJO.

H.H.




Ocupa-me espaços pensar-te.

Eu sendo uma e tu em todos cantos meus.

E também nos avessos.

Não há saber nisso do meu desejo.

Tampouco consciência.

Torpor do que não dissemos.

Não lembro.

Vejo o grisalho na tua cabeça e me vem o cheiro.

Gosto.

E eu escrevo sobre o que não existe?

E se foi, bastou o momento.

Querer é doloroso.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Ela bela.

Uma renda vermelha sob a pele, e num instante mágico a percepção do feminino submerso.

Então o contraste daquela cor com a carne era um pouco triste, confuso e belo.

Aquela delicadeza da trama sob o músculo refletia no espelho alguém que há muito não se sabia leve.

E era asa essa visão.

Um vôo interno, intrépido e profundo.

Em infinitos segundos os sentidos se conversam e convergem para o muito.

domingo, 28 de novembro de 2010

Nando. Ido. Sendo.


Um Nome Terra

para um coração fogo

Um corpo água

para uma alma ar

Árvores dele,

nossas anti bombas atômicas

Folhas tão verdes

de tribos indígenas distantes

Agora ele está lá:

num cocar , na relva,

no dialeto estranho

dos sem fronteiras.

(Agora tu és livre, como sempre foi tua natureza.)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Ser indivíduo




A vida é mesmo cheia de atalhos, de percursos pesados, trechos escuros. Ainda bem que ela não é só isso. Ainda bem que são sempre quatro as estações e que nem todas as folhas permanecerão brancas ou vazias. Ainda bem que existe a dor, que é um alarme para colocarmos as coisas em seus devidos lugares.


Acho que posso enumerar milhões de coisas maravilhosas, que ainda bem , existem e são. Mas tudo vale muito mais a pena quando sabemos que a melhor companhia do mundo, é a nossa. Quando entendemos que as melhores coisas da vida só podem ser percebidas e desfrutadas quando somos de fato, indivíduos.


Isso de ser um não implica em egocentrismo, mas tem sido meu verdadeiro caminho para alguma sabedoria. Sente-se só quem não se conhece e quem não se gosta. Parece simples, mas não é.


Hoje vejo com tanta nitidez o quanto tantas pessoas não são inteiras e talvez nem metades. É um erro gigantesco acreditar que a felicidade está lá fora, está no passo de uma outra pessoa, na decisão de um camarada, na visita de um amigo, num abraço que não veio.


O mundo nos engrandece ou reduz. Os relacionamentos nos fazem crescer ou recuar. O que me parece ser a questão central é ser um indivíduo, com toda sua plenitude e prazer. Saber enxugar suas próprias lágrimas e a andar só, com a magnitude de um felino.


Se saber vivo, inteiro, pleno e capaz de fazer escolhas que estejam a altura do que somos. As decisões mais felizes são fruto de parâmetros estabelecidos pelos nossos limites e expectativas realistas. Pelo que entendemos como prazer genuíno, como acréscimo, valor real.


Estou aprendendo que podemos permitir ou não. Que quando avançamos limites, somos ferozmente violentados. Que a consciência da solidão humana dói, mas nos ensina coisas maravilhosas a respeito de nossa essência e da representação do outro.


Conversando com um amigo há algumas semanas, ele me disse que fez o caminho de Santiago, e lá, teve incríveis insights sobre a solidão humana. Eu não trilhei esse exato caminho ( que ainda pretendo), mas tivemos, mesmo em direções opostas, a mesma certeza. Essa consciência muda tudo. E para melhor. Não vamos mudar o mundo com nossos desejos e nem saberemos de fato, desejar, se não formos conscientes da nossa verdadeira natureza.


É só quando a gente se ama tanto assim que aprendemos a selecionar. Não vejo outra forma, outro caminho, para a real felicidade.
È preciso existir, primeiro e antes de tudo. É urgente sentir cheiros, sabores e texturas. Toda a percepção é única e pessoal. É preciso ver o mundo com os próprios olhos para saber onde ir , onde ficar e o que dividir.


Tudo isso parece assustadoramente óbvio, mas tem sido uma lição gigante e maravilhosa.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Para Ana

Ana,

Eu gosto daquele verso que te falei

(Nave, Ave, Moinho
e tudo mais serei
para que seja leve
meu passo
em vosso caminho)

Traduz leveza
(como você observou)
A paixão é um peso
escraviza
é contra a vontade da gente
tudo involuntário
e fora do controle
Não é bom
Nunca se está de fato feliz
ou em paz
É uma agonia
não remunerada.
Eu sei que você concorda comigo.
Sei também que essa parte da nossa conversa nos inspirou
e você me obrigou a escrever, a salvar em algum lugar esse trecho.

Sabe, é bom quando conversamos, nos entendemos
e apesar de tantas diferenças e dias e dias de distância, você sabe
que falamos uma língua parecida e tão esquisita pra tanta gente.

Depois me fala desse livro novo. Das coisas que eu sei que você sublinha. Todos os seus livros são riscados, têm anotações várias, á lápis. Eu sempre leio com mais atenção esses trechos.

Amo você desse meu jeito. É muito, creia. Vc sabe.